
A passagem
A imagem como exasperação do sentimento. Um manifesto do respeito e do tradicionalismo dos orientais – por mais burra que seja qualquer generalização – com seus mortos, em contrapartida com a difusão da morte como perda autocomiserativa que abala quem fica. Rituais esses que se marcam até no desrespeito pelos mantenedores da tradição, como se essa fosse a missão de homens sem alma, que não podem se apegar à ninguém. Homens os quais acabam vivendo unicamente para aquilo.
O filme são tradições. A mulher que ainda se sacrifica por seu homem, renegando sua profissão, moradia e anseios em contrapartida a um sonho fracassado do homem de ser um grande músico. Que leva a sair de uma metrópole e voltar às origens. A dor do sonho que não se realiza, e pior, que se chega muito perto, mas no fim deixa apenas uma dívida. Sonho que o capitalismo não deixa realizar, o importante é se sustentar, não existe apoio ao que não é produto. O talento que existe, mas que sempre ficará atrás de outro músico mais talentoso. Talento que vira um peso.
A dor daqueles que se fecham em si próprios, expondo ao mundo uma casca dura e ressentida. A distância marcada desde o dia que o seu próprio pai desapareceu, talvez não suportando o seu próprio invólucro. Dor essa que se arrastará até o momento que o próprio filho prepara o corpo do seu pai para o funeral. Dor simbolizada em uma pedra, que é o ápice da frigidez e do não-sentimentalismo, mas que naquele momento transmite o amor que não é daquele mundo, que nunca vai ser visto naquele mundo, e sim que se inicia com a jornada da pós-vida.
Além disso, o encontro. Um homem que se encontra na mais bisonha das profissões, mas que é firme na sua assepsia emocional e ali se apega. Distancia-se do resto, mas que a ciclicidade traz de volta, como no caso da mulher amada.
E o apoio no humor, na troça. No vídeo institucional, que tendo o protagonista como cadáver voluntário, sugere um tampão anal para evitar vazamentos. A sensação é a mesma que se passa em um velório, quando as pessoas tentam contar piadas e amenizar a sensação da perda. O momento da dor, e as pessoas tentando tornar superficiais os segundos que valem por horas.
A Partida é uma emulsão dos sentimentos que envolvem a morte em imagens. Não apenas a morte em si, mas os momentos chaves da vida. E em imagens, isso transparece nas pieguices que permeiam o chulo, parecendo um vídeo de auto-ajuda, mas manifesta o que é e somos no fundo da alma: um emaranhado de sonhos, em sua maioria frustrados, ou apenas não-realizados. A cena do protagonista tocando violoncelo no meio do campo dá a impressão de um sonho juvenil, de uma fantasia adolescente, de algo que se pensaria antes da amargura da vida nos tomar. É babaca, é simplório, é “feliz demais”, mas é isso que a morte nos traz, a iminência ou a concretização da perda nos joga a confrontar aquilo que esperávamos que fosse acontecer, seja isso um anseio pueril. E isso está nas imagens. De maneira brega, mas está. E isso é o viver sem mágoas e rancor. Sonhar sonhos que a vida não nos permite.
No exagero, se solidifica. Porque morte é exagero, morte é dor, é destempero, mas também é um confrontar com a vida. É idiota, como qualquer ser humano. Idiota porque tendemos a enfrentá-lo com o rancor que a vida adulta nos traz. A Partida são emoções em imagens, cinema como confronto, humanidade em exagero. Defeituoso, mas não na concepção cinematográfica, e sim por tentar se assemelhar a nós, humanos. Deveras tocante.
A imagem como exasperação do sentimento. Um manifesto do respeito e do tradicionalismo dos orientais – por mais burra que seja qualquer generalização – com seus mortos, em contrapartida com a difusão da morte como perda autocomiserativa que abala quem fica. Rituais esses que se marcam até no desrespeito pelos mantenedores da tradição, como se essa fosse a missão de homens sem alma, que não podem se apegar à ninguém. Homens os quais acabam vivendo unicamente para aquilo.
O filme são tradições. A mulher que ainda se sacrifica por seu homem, renegando sua profissão, moradia e anseios em contrapartida a um sonho fracassado do homem de ser um grande músico. Que leva a sair de uma metrópole e voltar às origens. A dor do sonho que não se realiza, e pior, que se chega muito perto, mas no fim deixa apenas uma dívida. Sonho que o capitalismo não deixa realizar, o importante é se sustentar, não existe apoio ao que não é produto. O talento que existe, mas que sempre ficará atrás de outro músico mais talentoso. Talento que vira um peso.
A dor daqueles que se fecham em si próprios, expondo ao mundo uma casca dura e ressentida. A distância marcada desde o dia que o seu próprio pai desapareceu, talvez não suportando o seu próprio invólucro. Dor essa que se arrastará até o momento que o próprio filho prepara o corpo do seu pai para o funeral. Dor simbolizada em uma pedra, que é o ápice da frigidez e do não-sentimentalismo, mas que naquele momento transmite o amor que não é daquele mundo, que nunca vai ser visto naquele mundo, e sim que se inicia com a jornada da pós-vida.
Além disso, o encontro. Um homem que se encontra na mais bisonha das profissões, mas que é firme na sua assepsia emocional e ali se apega. Distancia-se do resto, mas que a ciclicidade traz de volta, como no caso da mulher amada.
E o apoio no humor, na troça. No vídeo institucional, que tendo o protagonista como cadáver voluntário, sugere um tampão anal para evitar vazamentos. A sensação é a mesma que se passa em um velório, quando as pessoas tentam contar piadas e amenizar a sensação da perda. O momento da dor, e as pessoas tentando tornar superficiais os segundos que valem por horas.
A Partida é uma emulsão dos sentimentos que envolvem a morte em imagens. Não apenas a morte em si, mas os momentos chaves da vida. E em imagens, isso transparece nas pieguices que permeiam o chulo, parecendo um vídeo de auto-ajuda, mas manifesta o que é e somos no fundo da alma: um emaranhado de sonhos, em sua maioria frustrados, ou apenas não-realizados. A cena do protagonista tocando violoncelo no meio do campo dá a impressão de um sonho juvenil, de uma fantasia adolescente, de algo que se pensaria antes da amargura da vida nos tomar. É babaca, é simplório, é “feliz demais”, mas é isso que a morte nos traz, a iminência ou a concretização da perda nos joga a confrontar aquilo que esperávamos que fosse acontecer, seja isso um anseio pueril. E isso está nas imagens. De maneira brega, mas está. E isso é o viver sem mágoas e rancor. Sonhar sonhos que a vida não nos permite.
No exagero, se solidifica. Porque morte é exagero, morte é dor, é destempero, mas também é um confrontar com a vida. É idiota, como qualquer ser humano. Idiota porque tendemos a enfrentá-lo com o rancor que a vida adulta nos traz. A Partida são emoções em imagens, cinema como confronto, humanidade em exagero. Defeituoso, mas não na concepção cinematográfica, e sim por tentar se assemelhar a nós, humanos. Deveras tocante.
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