Reclamar a não seleção do próprio filme por parte de um festival é melancólico e, de qualquer forma, ineficiente. Lamentar não resolve nada. É por isso que decidi escrever este texto a fim de esboçar um ENTENDIMENTO sobre o por quê do meu 1o curta, “Danças”, ter sido recusado pelo Festival Int. de Curtas de SP, mas, sabendo que essa tentativa de compreenssão está fadada de antemão ao fracasso, escrever as linhas abaixo não deixa de ser antes de tudo uma terapia individual.
1) Ter o filme recusado em Brasília, ok, dá para entender perfeitamente. No Ceará, ok também. Em Paulínia então, a gente já inscreve tendo consciência de que lá o cinema é visto sob uma outra ótica.
Agora, ter o filme excluído de uma seleção que tradicionalmente evita o recorte estilístico e abrange a diversidade (regional, temática e, principalmente, formal), o que por sua vez só é possível mediante o alto número de selecionados (neste ano há 53 curtas no Panorama Brasil somados a outros 28 no Panorama Paulista), é um atentado.
2) “Danças” não se enquadra? Não se enquadra no quê, afinal? Ademais, se enquadrar é uma questão? Acho que não.
Numeremos então alguns motivos que certamente não ajudaram o filme na seleção (sem que isso tenha a pretensão de justificar a exclusão):
– O filme NÃO se dirige ao espectador (ele é um convite para que o espectador se dirija a ele).
– O filme NÃO tem uma história.
– O filme NÃO tem um discurso social.
– O filme NÃO tem piadas para ganhar “prêmios do público”.
– O filme NÃO tem dramas humanos individuais pequeno-burgueses.
– O filme NÃO é baseado em um conto do Machado de Assis.
– O filme NÃO é uma biografia de Leonel Brizola.
– O filme NÃO fala de quando o Michael Jackson esteve no Brasil.
– O filme NÃO homenageia o Chico Buarque.
– Enfim, o filme NÃO tem a tal da “relevância” (termo de Francis Wogner).
– O filme NÃO fala a “língua da tribo” (expressão de Reinaldo Yamada), é esquisito demais.
_ O filme NÃO é um documentário metalinguístico em 1a pessoa.
_ O filme NÃO emula Tarantino ou Antonioni.
– O filme NÃO se adequa ao gosto MÉDIO.
– O filme NÃO tem a duração MÉDIA de 15 minutos.
– O filme NÃO tem 3 minutos.
– O filme NÃO tem o Selton Mello.
– O filme NÃO tem a cartelinha “Festival de Cannes” no início.
– O diretor NÃO enviou o dvd pra seleção numa caixinha profissional.
– O diretor NÃO é ator nem músico.
Então, o que o fime é, afinal?
É definitivamente ruim e tem que ir direto pro youtube? Bom, ser ruim não seria motivo de exclusão, uma vez que já vi trabalhos muito fracos neste mesmo festival (mas não quero entrar neste território lamacento da comparação valorativa em respeito à maioria dos outros realizadores).
Quem são os curadores? Qual o critério utilizado?
Perguntas no vazio, e só resta continuar a trabalhar, com aquele prazer que independe da aceitacão ou não por parte das curadorias.
Nada de “curta portfólio”. Afirmar sem medo a Diferença. E filmar é um ofício de amor.
ps: obrigado aos parceiros deste blog por cederem este espaço coletivo para a manifestação de algo incovenientemente individual, mas este texto, neste momento, se fez necessário (ao menos para mim mesmo).
Muito sincero e muito relevante, sua manifestação é mais do que pertinente.
Quais criterios de quem analisa é o que sempre me pergunto.
O termo “nao tem selton mello” é genial!
Muito bom, Wata, parabéns. Teu curta é de ouro, como eu te disse quando o assisti, e tenho certeza de que ele terá cacife suficiente pra ir além do festival de SP. Busque também eventos internacionais, porque sem dúvida ele tem força pra isso. Abraços, meu caro.
fernando,
quero muito ver.
encontrei o trailer no youtube e fiquei curioso.
final da semana vou me encontrar com a curadora de um festival internacional que rola em outra cidade.
me disponho a mostrar pra ela.
você acha que rola?
qualquer coisa entra em contato ( salomao@peixeflor.com )
abs
oi, Wata! ainda não assisti ao seu filme, mas, com todas as referências que já tive, tenho certeza de que merecia estar na seleção. mas, como você mesmo disse, “não ser” um monte de coisas explica um monte de outras coisas… 😉
beijos!
“-O filme NÃO emula Tarantino ou Antonioni.” foi foda!
festival de cinema no brasil é pior que mulher pra entender.
respeitosamente,
graziano.
[…] Watanabe publicou um longo desabafo sobre seu curta Danças não ser selecionado para o Festival de Curtas de São Paulo. Alguns pontos […]
Além do Panorama Paulista, há mais 2 sessões de consolação: críticos/realizadores e outra dedicada a musicais.
Solaparam o filme de todas as maneiras possiveis!
Salve F.Wata
Fico me perguntando sobre o que é seu filme?
Ovinis?
Aliens?
Marte?
Conspirações?
Trafego de Drogas?
Bopi?
Bah o esquema é fazer filme de vampiro!
Salve Gui Ferraro
Não é sobre “Ovinis”, tampouco sobre “Bopi”.
Se trata de uma série de coreografias performadas nas ruas do centro de São Paulo e em palcos teatrais.
[…] Pessoal, é com grande prazer que panfleto aqui a sessão do CURTA CINEMATECA ESPECIAL desta sexta-feira, 29/01, 20h30, na Cinemateca. Poderão ver pela primeira e última vez o DANÇAS, curta-metragem mais solapado de 2009: pela falta de categoria segundo alguns, pela presença de originalidade segundo outros. Para tirar sua conclusão, compareça! Ele está muito bem acompanhado por outros 3 filmes que integram a sessão, cujas informações estão no link: http://www.cinemateca.gov.br/programacao.php?id=75 Pra terminar, como as pessoas que brincam de curadoria festivalesca não escrevem, só tenho aqui para divulgar as reações positivas ao DANÇAS, abaixo: http://olhoslivres.zip.net/arch2009-10-25_2009-10-31.html (post do dia 26/10/2009) http://www.filmespolvo.com.br/site/eventos/cobertura/695 https://oesportefavoritodoshomens.wordpress.com/2009/07/17/dancas-recusado-pelo-festival-de-curtas-sp… […]
bem, bom..
a minha (re)dicta:
“não tem ‘selton mello mas tem sérgio ponti, (p)estidiota..
Fernando,
Fazer cinema é uma luta. Nunca deixe de acreditar na honestidade do realizador como expoente máximo da expressão artistica.
De um lado da objetiva, a retina dos nossos olhos; do outro o infinito de possibilidades à imagem de nossa subjetividade.
Participar de um grande festival é só mero detalhe.
Um beijo,
Vera
Bom dia Fernando! Vi registrado na página da ECA/USP seu trabalho de graduação: Zanzibar Produções: Operações artísticas do ideal revolucionário Análise crítica dos filmes Détruisez-vous (Serge Bard, 1968), Acéphale (Patrick Deval, 1968) e Deux Fois (Jackie Raynal, 1969). Gostaria saber se vc podia me conseguir uma cópia do mesmo. Participei na produção do filme Acéphale em 68. Um abraço Michael Chapman e-mail. mchapman@terra.com.br