(Por Cleber Eduardo, em sua estreia como colaborador do blog)
Os melhores e maiores momentos de uma arte equivalem aos melhores e maiores momentos de qualquer arte.
Uma sequência magistral de Jean Epstein em A Queda da Casa de Usher ou outra de Tempestade, filmes dos anos 20 e 40, o primeiro na cena forte de experimentos visuais-sensoriais na França, o segundo já banhado de experiências poéticas não sem algum realismo, são proporcionais aos grandes momentos de Manet no século 19.
Por que Epstein e Manet? Poderiam ser outros, mas assumamos nossos lugares, nem que, para assumir, tenhamos de arbitrar.
E para arbitrar, por mais que haja regras, haverá, para além delas, um entendimento do jogo.
E um entendimento passa por processos que não cabem a nós investigarmos em seus meandros. Cabe expressá-los, com todos as limitações, mas também com convicção.
Epstein e Manet nos colocam em um lugar que não é mais o lugar das evidências. O que há de grande e epifânico neles, porque são epifânicos, estão na relação com a percepção, não somente em procedimentos.
Não se trata apenas de usar uma câmera lenta aqui, de informalizar um rosto e colocá-lo na direção das bordas, não se trata de uma técnica enfim, mas de uma expressão geradora de efeitos.
E os efeitos, por mais que sejam pessoais, não surgem do nada. Eles surgem a partir de evidências. São frutos de uma relação.
Esses grandes momentos epifânicos da imagem, seja ela em movimento estilizado com poesia, seja ela uma poesia de movimento estático, podem ser encontrados em Diego, não o Velasquez, nem o Rivera, mas aquele do Juventus, que não é o da Javari, mas o do Delle Alpi, em Turim.
Por que Diego e não Kaká, e não Cristiano Ronaldo, e não sei mais qual artista da bola? Por que precisamos arbitrar e, quando Diego pega na bola, levanta a cabeça e conduz o ritmo da obra (o jogo), vendo o fora de quadro, ainda dentro do campo, não sem usar a câmera lenta aqui e a aceleração ali, podemos ver também Epstein e Manet em seus momentos epifânicos
Esses momentos são efeitos a partir de suas jogadas, mas não são as jogadas e, sim, as jogadas em relação à nossa visão. Diego não parece estar nesse momento nos planos de Dunga. Assim como Epstein e Manet não parecem estar no campo de visão de muitos estudiosos e críticos.
Seria o caso de chamar alguns de cegos? Ou de apenas constatar que eles não estão em relação ás evidências, mas fechados em suas teorias sem evidência alguma? Cegos, portanto?
Não vou entrar nessa papagaiada de soltar rojões para Dunga porque agora a seleção não perde e porque está jogando “bem”. Futebol para mim é uma outra coisa. É Diego. Assim como arte para mim não tem a ver com funcionalidade e competência. Tem a ver com expressividade.
Não sei se com competência ou se com expressividade, o Juventus, esse o da Javari, da Mooca, parece estar a lembrar de sua expressão. Está entre oito pequenos paulistas em busca de uma vaga na Copa do Brasil no campeonato que não mobiliza uma linha nos jornais de São Paulo. Seria o caso de chamá-los de cegos?
Ora, o Juventus, o da Javari, é patrimônio da cidade. Deveria ter cobertura diária, aparecer nos programas de TV, ser chamado às mesas redondas. Não precisa jogar bem ou ganhar. Juventus é poesia macarrônica, de versos tortos, mas expressivos. É Candeias, Ody Fraga, versos na pedra, não sem inteligência, mas em nome de uma resistência, não de uma adaptação. É como o armazém dos espanhóis aqui da rua, na Aclimação, que vendem suco de uva verde, não soda limonada
Com competência e expressividade, Two Lovers, tradução Os Amantes, de James Gray, é outro exemplo de poesia expressiva. Não sei se de resistência, mas de proposição. Ha quem veja em suas imagens apenas ilustração de roteiro. Seria o caso de chamá-los de cegos por não estarem em relação com as evidências?. E elas pululam.
James Gray e Two Lovers são estímulos para quem deseja lidar com imagens. Epstein e Manet também. Diego e o Juventus, da Javari, por diferentes caminhos, não estão fora. Um estudante ou um amante de cinema e/ou pintura e/ou futebol, amante de arte, deveriam ver Epstein, Gray, Manet, Diego e o Juventus na Javari
Questão de relação com as evidências
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