Escrevi aqui sobre o longa anterior, Mangue Negro (2009), do Rodrigo Aragão, justamente porque achava que ele tinha um trabalho que se destacava. Ao contrário da maioria dos realizadores que vivem nesse meio de filme semi-amador, fazendo filmes trash pra consumo deles mesmos, o Mangue Negro se preocupava bem menos com essa expectativa do público. Esses filmes do submundo de horror brasileiro costumam ser preguiçosos, enchendo-se de thrash metal nas sequencias de terror, e basicamente vivendo de roteiros com piadas escatológicas. Tem sempre os caras com mais talento que se destacam. O Aragão era um deles, justamente porque tinha um toque de artesanato – filme de interior. Lidava com mitologias brasileiras, as trabalhava, pensava e criava em cima de coisas muito fortes, ao invés de só se alimentar e copiar filmes de zumbis. Esse A Noite do Chupacabras, que aparentemente é baseado num curta dele, que não vi, não tive oportunidade, é um passo atrás. A defensiva do Aragão anunciando o filme já revelava, de certa forma, a afragilidade dele.
Não acho que ele tenha perdido o toque pessoal. Ainda vejo nesse filme a predileção pelo interior, pela cultura local. Por tentar engendrar algo novo, estruturando uma briga entre duas familias que por terra e ego se atacam o tempo todo. Só que tudo isso perde qualidade se o filme simplesmente só joga as coisas lá. Elas existem, são legais, mas o filme é muito largado. O zelo que ele tem em tantas sequencias naquele filme, como o personagem do velho, o mesmo Marcos Konká que volta nesse filme, aqui parece muito tosco. O filme não tem cena, não tem construção. Técnicamente ele continua na frente da maioria dos realizadores independentes, até mesmo a forma de representar o chupa-cabra acho bem bolada. Mas enquanto lá o apuro dos efeitos se juntava ao trabalho de realização, aqui é só um mérito pequeno.
O filme parece não querer ser cinema. E sim uma brincadeira pra amigos, trabalhosa, feita com zelo e amor, mas uma brincadeira. Não consigo ver a forma como ele coloca as coisas em cena sem notar o carinho pelo universo, a empolgação com as piadas e as pessoas ali. Mas a coisa não vai e o filme só joga para a galera, como se palavrão levasse o filme nas costas. Claro que tem momentos que são engraçados, mas é muito pobre como cinema. Tem hora que parece que não tem ninguém dirigindo, que a coisa só se juntou na montagem e tentou se dar ritmo. Apesar do cuidado de sempre, da bagagem e universo interessante que ele tenta criar – sem sucesso, desta vez, são coisas que estão lá, mas que só as vejo assim, claras e com interesse, porque vi o outro filme dele, que era bom. Talvez se tivesse apenas visto este, se quer teria o que dizer a favor dele. O filme meio que abandona muita coisa, o chupa-cabra mesmo é um fantasma em cena, não tem nenhum valor além do signo. Se no outro o talento lhe colocava como um diferente, esse aqui nao é ruim, só é mediocre. Apenas um outro filme mediocre desses.
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