Enfim assisti a esses dois filmes de canibal do período classico do genero. Jungle Holocaust é pioneiro, um dos primeiros a lidar com as imagens que viriam a ser copiadas pelos outros filmes, como de praxe na Itália. Imagens-símbolo existem em todas as cinematografias, mas a Itália copia num level diferente. Mas é injusto e irreal dizer, como muitos, que se viu um deles, basta. Primeiro, porque os filmes merecem ser vistos, mas porque o talento se apresenta em dose triplicada no trabalho do Deodato. Vi uns filmes do Umberto Lenzi de outros generos, a maioria era giallo, e já nao tinha visto nada muito elaborado. Mas quando se pega o Eaten Alive! e coloca de front ao Jungle Holocaust, a diferença assusta. Deodato tem personalidade, o filme tem peso, as cenas tem ritmo, tem emoção, o filme tem realização. Densidade, presença – longe de dizer que se trata de um filme brilhante. Mas é um filme. O Eaten Alive! é divertido e tal, mas é completamente sem corpo. Tudo parece corrido, jogado, uma aventurinha que por oportunidade passa-se na selva. Náo fosse o talento do ator, o mesmo Robert Kerman que comanda o Canibal Holocausto, o filme dificilmente teria qualquer interesse. Afora que abusa muito mais dos vicios, tentando juntar aos montes as cenas de tortura aos animais, cobras comendo tudo que é animal, tem até briga de bicho. As cenas de canibalismo são pouco elaboradas, não tem tensão. Os protagonistas são simpáticos, até demais. Chega a ser fácil a sensação de que eles merecem sobreviver. O grande mérito estrutural do Canibal Holocausto é o reverso da narrativa, j á que se simpatiza com o primeiro cara, que chega a selva e consegue se misturar, e depois se ve o seu oposto, com a equipe de filmagem. Ali, se cria uma zona de suspense – com eles qualquer coisa pode acontecer, inclusive o que acontece. Nesse filme é obvio que eles escapam. O Jungle tem mais suspense, e acompanha um cara que rapidamente se isola dos outros. O trabalho ali é de outro estilo. Sobrevivencia na selva, o cara fica preso por um grupo que não se mostra canibal, enjaulado, descobre seria usado como isca para caças, faminto. No sadismo evidente do Deodato, dá pra imaginar até Werner Herzog orquestrando o filme. A diferença é que Herzog respeita muito os mistérios e o mundo desses lugares, já o Deodato usa e abusa, deturpando e massacrando as coisas.
Essa lógica de filme sobrevivencia é legal, e se encaixa a ideia de luagr inexplorado. Tem cenas grosseiras, coisas bobas pra estabelecer o genero, mas na maioria do tempo o filme realmente sofre com o personagem, e leva a serio a sua proposta. A diferença de talento e de criatividade Deodato/Lenzi são intraduzíveis. Diria que o outro existe para quem quer ver mais um filme de canibal e acabou, tudo tá pra constar, a aventura náo tem peso, e se voce suporta ver animais se degladiando, conseguirá ver um filme de canibal. Nem acho que no Jungle ele vá tão afundo quanto possivel, na tortura pessoal do personagem, mas a coisa é sofrida, a ponto dos animais quase serem um peso menor no filme. O joelho do parceiro, os cogumelos, crocodilo, pancadaria, aves, fome. Tem muita coisas de fato em cena. O Eaten Alive! nem é ruim, mas não tem muito interessem em existir.
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